Relatos

Relatos da sra. Ana Bela
O meu relacionamento com o Sebastião (Seba’s, como gosto de o tratar) mudou o meu jeito de encarar a vida, parece uma história de ficção.
Conheci-o através do meu ex namorado, eu namorei um rapaz de nome Luís que frequentava a mesma igreja que o Seba’s, eles eram conhecidos. No entanto eu era da igreja católica e não ia já há algum tempo, por isso passei a frequentar a igreja metodista com o “boff”(meu namorado Luis). Conheci o Luis na escola comercial, ele estava no último ano e eu no primeiro. Um tempo depois comecei a ver o meu namorado se aproximando de uma moça mais velha, aparentemente casada e com filhos, era colega dele e trocavam material escolar, mas quando eu o questionava, contava-me histórias esfarrapadas, até que terminou o curso e sumiu da minha vida sem se despedir,”nem um tchau me deu, acredita?”, senti-me abandonada, como um bebê deixado à própria sorte.( assim como a Maria desamparada na novela: Triunfo do amor), a diferença é que eu teria sido abandonada propositalmente.
Então depois disso continuei a frequentar a igreja metodista, desde o grupo jovem até o grupo coral, com o passar do tempo perdi o interesse pelo Luís( tal como fez a Maria desamparada).Foi então que soube através do Seba’s que o Luís tinha uma namorada na igreja ou seja, ele me traia, lembrou-me o trecho da música da Laura “quem ama não trai, você nunca me amou”, já estavam juntos há muito tempo, o Seba’s disse-me que quando viu-me com o Luís, abordou-lhe e questionou: por quê estás a empatar aquela miúda? Qual é teu objetivo? E etc.
O Seba’s se declarou a mim e começamos a namorar ,mas algo me incomodava nele, era muito ousado, atendendo e considerando que o meu ex(o Luís) era muito respeitoso e calmo, tanto é que só ficávamos nos beijinhos, para o meu espanto, o Seba’s era “acelerado” , não sei se já havia conhecido outras moças, o facto é que era ousado, digo isso porque as mãos dele chegavam onde ninguém nunca tinha chegado, debaixo das minhas saias e isso me incomodava muito, o Seba’s foi meu segundo namorado e por isso não tinha coragem de falar para ele parar com aquilo.(era apenas uma menina sem muita noção de relacionamentos).
Passado algum tempo fiquei a saber que o Seba’s e o Luís eram amigos (pensei que fossem apenas conhecidos), fiquei preocupada e pensava: “na verdade esses dois fizeram um acordo, o Luís esteve comigo,some sem dizer nada, então deve ter dado o passe livre ao Seba’s “.
Por causa disso, já envolvida pelo medo de estar a ser usada como um objeto de prazer,eu fugi do Sebastião, ele marcava encontros e eu não ia porque pensei tratar-se de uma jogada entre eles.( essas histórias de triângulo amoroso só dão certo quando Deus é o terceiro, até porque é bíblico, está escrito em Eclesiastes 4:12).
No ano seguinte, passei a frequentar as aulas de desporto na escola comercial, foi quando soube através de um jogador que o Seba’s ( que era atleta) estava doente e internado já passava um ano, disseram que ele já não corria e nem treinava, aquilo foi um balde de água fria para mim, fiquei tão espantada e questionei:
Eu- há um ano?
O jogador- sim, ele está de baixa no hospital central.
Eu- ihhhh como assim? O que aconteceu?
Foi quando tive um pequeno esclarecimento.( geralmente isto acontece em filmes americanos, ou em novelas onde o vilão contrai uma doença mortal por conta dos males que causou às pessoas, mas o Seba’s era do tipo bonzinho e não merecia passar por aquilo).
Alguns dias depois,decidi ir ao hospital à minha saída da escola, tive que ganhar coragem e começar a procurar por ele,fui perguntando e recebi indicações sobre onde encontra-lo.
Tendo o visto tomei um susto pois não esperava que aquilo fosse verdade “ como o Seba’s pode estar nesta situação há um ano?” Queria compreender.
Entretanto, não consegui permanecer no local,fui para casa e naquele dia não cheguei a pegar no sono, estava indignada pelo mal que teria visitado a vida de um jovem sonhador como era o Seba’s.
Alguns dias depois comecei a digerir aquela informação e passei a visitá-lo na enfermaria do HCM ( Hospital central de Maputo),todos já me conheciam pois passava muito tempo com ele, em meio a esta convivência, eu e o Seba’s ficamos amigos ( acho que era o que devia ter sido desde o princípio).Eu passava a lhe tirar caspa e por vezes fazia tranças, conversávamos sobre tudo e a nossa amizade foi ficando mais forte.
Nossas famílias não sabiam do nosso relacionamento,mas quando comecei a frequentar o hospital, todos, inclusive a família dele, pensou que fossemos namorados.
Eu o acompanhava em algumas secções de fisioterapia, estando ele na cama, evoluiu e introduziram a cadeira de rodas, mas ele recusou-se a usar pois queria voltar a andar, por isso eu conversei com ele, “não vai ser sempre assim, é o princípio e é bom dar um passo de cada vez “ ,( afinal de contas é preciso respeitar o processo para que as coisas tenham um bom resultado). Foi um período muito difícil pois a cadeira de rodas estava ao lado de sua cama mas ele só ficava a olhar para ela, todavia foi aceitando e usou a cadeira de rodas, depois começou a usar as muletas, chamou-me para ver( acho que foi isso) foi um avanço considerável, de tal maneira que quando ele saiu do hospital senti-me realizada, pois tinha o sentimento de missão cumprida ( naquele processo pude explorar o meu instinto materno). No entanto ele voltou para casa e eu dei segmento a minha vida, claro que mantivemos contacto.
O Sebastião é directo e fala sem rodeios, depois de algum tempo veio até a minha rua para fazer um pedido:
Eu- Está a acontecer alguma coisa?
Seba’s- peço te um favor.
Eu- ok, fala.
O Seba’s vinha pedir que eu me envolvesse sexualmente com ele, para testar se depois de contrair a doença continuava activo sexualmente ou não. Eu fiquei espantada e recusei de imediato.( kkkkkkkk o Seba’s é muito ousado, acho que ele nem tem noção disso, deve ser um instinto natural).
Depois de alguns meses,contou-me que tinha arranjado alguém e inclusive a moça estava grávida dele.( Talvez eu tivesse ficado grávida ,caso tivesse aceite, isso criaria muitos problemas para nós pois a minha mãe era muito protetora e ás vezes controladora , mal me deixava sair de casa).
Bem, é importante que saiba que o Sebastião gosta de seguir as regras de raiz e é um pouco orgulhoso, precisa de alguém que lhe compreenda e seja submissa, porque não vale a pena confrontar.
Por conta desse contacto com o Sebastião, hoje vejo que a deficiência pode surpreender a qualquer um de nós, a título de exemplo temos o próprio Seba’s, que nasceu saudável e do nada contraiu a doença que o tornou dependente de muletas,
Hoje eu sou casada e tenho filhos, educo a eles de tal maneira que saibam respeitar todas as pessoas, pois apesar das diferenças, somos todos iguais ( o ministério da saúde bem diz).
Contudo eu gosto muito do Seba’s e o considero como uma amizade para a vida toda.